Laços invisíveis

Jonathan, 16 anos, disse à mãe que iria estudar até mais tarde na casa dos amigos e passou horas consumindo bebidas alcoólicas em uma festa ilícita.

Marcos, 18 anos, acabou de receber sua permissão provisória para dirigir. Foi convidado para a mesma festa em que Jonathan estava. Marcos bebe socialmente e após duas ou três cervejas, não se importou em voltar para casa dirigindo o carro que seu pai havia lhe emprestado.

Pedro, 23 anos, recém-formado em direito, saiu com os amigos para comemorar seu bacharelado. Sete dias depois, sua família estava reunida para sua missa de sétimo dia.

O que estes três rapazes têm em comum? Melhor seria se não houvesse nada que os conectasse um ao outro. Mas, a história não é bem assim.

Jonathan fora convidado por alguns amigos para sair à noite. Sua mãe não permitiu, pois há poucos dias havia descoberto que o filho passava muitas tardes consumindo bebidas alcóolicas. Pensando em afastar o filho das más companhias, o proibiu de sair. Jonathan, no entanto, contrariando as ordens da mãe, saiu escondido. Pedalando sua bicicleta, se encontrou com os amigos em um bar a quinze minutos de sua casa.

Após seis cervejas, seus amigos o convenceram a experimentar um drink novo. Essa mistura de bebidas o deixou ainda mais alterado. Mas, Jonathan estava se divertindo muito.

No caminho de volta para casa, Jonathan pedalava com descuido e sem perceber se lançou em frente a um carro. Por pouco não perdeu sua vida naquele momento. Felizmente, o motorista do carro era Pedro que apesar de ter saído para comemorar sua formatura, estava sóbrio e conseguiu frear a tempo de não atingir Jonathan e sua bicicleta.

Marcos havia se encontrado com Jonathan no bar. Ele e seus amigos caçoaram muito do pobre garoto por ser novo demais e por ainda estar sob os cuidados da mãe. Envolvido pelos amigos, Marcos também misturou algumas cervejas com doses de vodca. Pouco tempo depois, já cansado, se despediu e pegou o carro do pai para voltar pra casa antes que este começasse a lhe telefonar.

No caminho de volta, Marcos ouvia suas músicas favoritas com o som alto e despreocupado, acelerava o carro para atravessar os faróis amarelos antes que estes ficassem vermelhos. Sem se dar conta, ultrapassou o farol vermelho em um cruzamento colidindo com um carro que atravessava a via. Desesperado, abriu a porta do carro e desceu com as pernas ainda tremulas. O carro de seu pai não havia sido muito danificado. Porém o outro, que recebeu a pancada na lateral, estava destruído e o motorista parecia desacordado.

Agora, ainda mais desesperado, Marcos entrou em seu carro novamente e com os nervos à flor da pele, continuou seu caminho sem nem ao menos prestar socorro ao outro motorista.

Chegando em sua casa, um pouco mais calmo, Marcos fora recebido por seu pai que, zeloso, o aguardava ainda acordado. Para que seu pai não o castigasse, Marcos mentiu e disse a ele que bateram no carro no estacionamento do shopping. Com a justificativa de que não vira o culpado, acabou recebendo a compreensão do pai que considerou apenas um incidente.

Pedro, que comemorava sua formatura, se encontrou com os amigos no mesmo bar. Ele nunca bebeu, era muito responsável e o amigo sóbrio da turma. Justamente por não ter o hábito de beber, era feito como motorista e encarregado de entregar os amigos em casa após o fim da festa.

Assim como Jonathan e Marcos, Pedro também se divertira muito naquela noite. Cansado resolveu ir embora e deu carona para quem solicitara. Dirigindo rumo à sua casa, uma bicicleta, com um rapaz, surgiu em frente ao seu carro. Assustado, Pedro freou bruscamente e se sentiu aliviado ao ver que conseguiu parar o carro a uma distância segura do ciclista. Após verificar que estava tudo bem, voltou a dirigir. No entanto, agora estava triste pensando no rapaz da bicicleta. Pedro notou que se tratava de um menino e que este estava embriagado.

Em um cruzamento mais adiante, com o farol verde, Pedro foi atingido por um veículo que vinha em alta velocidade, com o som alto. Seu carro fora lançado a alguns metros de distância, uma colisão lateral que estilhaçou os vidros, curvou e partiu a lataria do carro, fazendo com que algumas partes perfurassem seu corpo.

Sangrando muito e perdendo suas forças, Pedro ainda tentou procurar seu celular para pedir socorro. Ele viu quando alguém se aproximou e tentou pedir ajuda mexendo os lábios lentamente e respirando com dificuldades devido à perfuração de seu pulmão ocasionada por um estilhaço do carro. Ele já não podia se movimentar muito, pois suas pernas formigavam e o sangramento o deixava cada vez mais fraco. A imagem da pessoa o observando já estava distorcida quando ele viu a pessoa se afastar. Pedro sangrou até a morte.

Um casal que passava pelo local, voltando de um restaurante onde haviam comemorado suas bodas, encontrou o carro parado em meio ao cruzamento e chamou o resgate. Infelizmente, não havia nada a ser feito. Pedro já estava morto.

Tristes com a cena, o casal continuou seu percurso para casa. Ao chegarem, a mulher caminhou até o quarto de seu filho. Abrindo a porta com cuidado, viu Jonathan dormindo tranquilamente e agradeceu a Deus por seu filho estar em segurança em casa. O que ela não imaginava é que Jonathan havia chego a poucos minutos e fingia dormir para que a mãe não desconfiasse que ele havia descumprido suas ordens. O que eles jamais saberiam é que o mesmo rapaz que por estar sóbrio conseguiu frear a tempo de não atropelar Jonathan, era o mesmo atingido e abandonado por Marcos, amigo de Jonathan, que nunca revelaria o ocorrido a ninguém.

Pedro não nunca exercerá a profissão para a qual se formou. Nunca encontrará alguém com quem dividir sua vida. Jamais voltará para a casa de seus pais que o esperavam com um bolo e muitos presentes. Nunca saberá que sua namorada estava grávida. Nunca conhecerá seu filho. Jamais sentirá o aconchego de um abraço novamente. Enquanto isso, Jonathan e Marcos continuarão vivendo como se nada tivesse acontecido. Suas vidas continuarão repletas de inconsequência e diversão sem limites. Mesmo que Marcos receba uma punição por seu ato impensado, Pedro nunca voltará à vida.
Autora: Thais Paolucci